Agora
só me
lembro do quarto vazio. Dei uma última olhada pra ver como ele ficava sem mim,
respirei fundo e fui virar uma página da vida.
Era um
domingo de início de julho. Dos móveis, só a cama tinha sobrado para ainda
deixar aquele ambiente com um pedaço meu. Todo o resto tinha sido vendido, e no
meio havia uma confusão de malas, caixas e sacolas com as minhas coisas.
Coisas, que sabe-se lá por que, tenho há cinco anos guardadas. Mas,
especialmente, há quatro, tudo isso residiu na rua Dr. Gil Horta, n° 30 (apt.
404 por três anos e 301 por um e meio).
No 404 foi
onde tudo começou. Foi ver o quanto aquela amizade ainda poderia ser mais e
mais forte. Foi, se não o local das primeiras vezes, o local onde relatei as
primeiras vezes pela primeira vez. Foram “objetos jogados ao chão”, beijo
triplo, queixo partido, batidinha de manga do Bahamas, playlists para “festas”
dentro de casa (ok, era mesmo só eu e Marcela as convidadas), microfone do
Silvio Santos, vídeos infinitamente comédias (“Marceeeeeela, Marcelaaaaaaa”),
nativos hablantes de español, Copa do Mundo, Paradas Gay, Capricho no banheiro, sessões de séries à
tarde e noites sem fim com uma latinha de cerveja na mão e uma boa conversa.
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2009, apt. 404 |
301 já foi
época de celular da Dani tocando música 24h por dia, numa altura
suficientemente alta e a mesma música com uma frequência um tanto irritante.
Quando menos esperávamos, estávamos catarolando pela casa “pirou, mulher? Tá
doida, é? Vem que vem com tudo que eu vou dar o que você quer”, sem nem sequer
ouvi-la uma única vez porque quisemos. Foram noites de investimento na área da
psicologia, de lápis preto na bochecha durante o Halloween do Chalé, de canecas
personalizadas, de horóscopo da Capricho, de casa lotada, de TV a cabo de graça (pena que tudo que é bom dura
pouco), de depressão pós-TV a cabo, de “Coooorre, Lelenaaaa!”, de miojo
preparado no micro-ondas (aliás, naquela época, TUDO era feito no micro-ondas) e
de viagens praticamente em família.
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2012, níver da Marcela na granja. Época de apt. 301 |
Morar em
república quando todo mundo tem liberdade para fazer o que quer, chamar quem quer
para visitá-lo e, melhor ainda, dividir momentos inesquecíveis com as suas
amigas de casa, para mim, não é como morar em república. Aliás, nunca usei esse
termo. Sempre que perguntavam, eu respondia: “moro com duas amigas”. É isso que
elas sempre serão. E os eternos 404 e 301 serão para sempre os nossos lares da
época da faculdade. E que as paredes de lá não tenham ouvidos. E, se “Deus
quiser”, muito menos câmeras.